Maria José Nogueira Pinto
A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) apresentou ao Ministério da Educação uma proposta para as escolas do 1.º ciclo do ensino básico funcionarem entre as sete da manhã e as sete da tarde. Uma proposta radical que encerra em si própria a alteração do sentido último da escola e o sentido último da família. Algo que, tendo estado desde há muito subjacente a toda a discussão em torno do modelo de sistema educativo, modelo de escola e objectivos do ensino, surge agora claramente como um facto assumido, não já uma circunstância mas um dado adquirido, o de uma parentalidade em part-time.
Sabemos que muitos pais têm de depositar os seus filhos na escola durante 12 horas porque precisam dessas 12 horas para trabalharem - duplo emprego, biscates, o que seja - único modo de fazer face às necessidades do seu agregado. Mas também sabemos que uma criança confinada a um mesmo espaço durante 12 horas, um espaço que não é a sua casa, o seu habitat, provavelmente não se construirá feliz e equilibrada. Há pois, aqui, um conflito, que nem sequer é novo, e uma proposta, essa sim nova, dos pais, de que seja resolvido a favor de um modelo laboral e social profundamente errado e em desfavor dos filhos.
Os chamados ATL, actividades de tempos livres realizadas fora da escola mas em local adequado para o efeito, já existem há muito em Portugal como uma resposta social para aquelas famílias, que são confrontadas, na sua luta pela sobrevivência, com o dilema de pôr em risco ou o sustento dos filhos ou os próprios filhos. Com esta proposta da Confap transfere-se para a escola o prolongamento do horário, e aquilo que era excepcional e em função de uma circunstância concreta passa agora a ser uma regra assumida e incorporada no próprio sistema educativo. Aqui reside a diferença e a diferença é abissal!
Segundo os dados disponíveis, apenas um terço dos casais com filhos menores de 15 anos recorre a serviços de apoio às crianças, incluindo amas, creches, pré-escolar e ATL. À primeira vista, nada indica pois que uma escola a funcionar 12 horas seja uma necessidade sentida por todos os pais ou, sequer, pela maioria dos pais. Mas, uma vez aprovada uma medida como esta, rapidamente se interiorizará que as 12 horas são o horário escolar diário e que, independentemente das reais necessidades dos pais, por uma simples conveniência ou pura comodidade, o lugar da criança é na escola. A ser assim, não estamos perante uma solução mas perante um gigantesco problema a projectar-se, impiedoso, sobre o futuro de todos.
Primeiro, porque muitos dos problemas actualmente vividos nas escolas têm a sua causa na ideia errada de que estas substituem a família. A escola é meramente complementar, mas vê-se forçada a ir mais longe para compensar as fracas competências parentais que se revelam hoje como transversais à sociedade portuguesa e já não exclusivas de famílias mal estruturadas. Esta situação deve ser mudada e não institucionalizada.
Segundo, porque sendo sempre verdade que nada é tão importante como criar e educar crianças felizes, amadas e capacitadas para fazer face à vida, essa verdade é ainda mais evidente no nosso Inverno demográfico. Por isso, aqueles pais que apesar das suas vidas duras, do seu presente precário e do seu futuro incerto tiveram a coragem de ter filhos, não podem, de modo algum, ser penalizados. E também para isso servem as leis e as políticas públicas: novas formas de organização do trabalho, apoios às famílias, equidade no acesso aos serviços.
A decisão de transformar a escola num depósito, com base em precipitadas análises sociológicas, branqueando os dramas da míngua de afectos, laços e convivência entre pais e filhos, com jogos e brincadeiras escolares, é uma capitulação. As crianças não merecem. Nem as pobres nem as ricas.
«Professores reformados recusam proposta para voltar às escolas», mas o senhor secretário de estado, também nesta matéria, considera ter poder e insiste que os professores reformados devem voltar à escola, "voluntários", para fazer o trabalho que abandonaram por força da política do governo.
O absurdo é de tal ordem que já não é mais que paródia, mais um sinal de descrédito, de chacota, elevando a equipa ministerial da educação ao ridículo absoluto.
Será desespero na procura do desvio de atenções?
Parece-me um dos muitos efeitos colaterais do caso Freeport... é o desnorte completo! Até onde a autoridade do chefe se irá impor ou até onde se irão baixar...
As crianças com idades compreendidas entre os 10 e os 13 anos são quem mais lê livros em Espanha, o que representa 81,9 por cento daquela faixa etária, indica uma sondagem da Federação de Grémios de Editores de Espanha.
Trata-se de uma percentagem elevada, que segundo a sondagem realizada no sexto trimestre consecutivo situa em 53,9 por cento o índice de leitura entre a população maior de 14 anos.
Segundo o estudo, 65,5 por cento das crianças entre os 10 e os 13 anos lê diária ou semanalmente, enquanto que 16,4 por cento são leitores ocasionais, que lêem um livro por mês ou por trimestre, e 59 por cento lê porque gosta.
A sondagem salienta ainda que 74,5 por cento ds crianças embrenhadas na leitura são filhos de pais leitores, 8,3 por cento lembra como muitas noites o pai ou a mãe liam aos filhos antes de dormirem.
Cerca de 94 por cento dos pais espanhóis entende que a leitura é "imprescindível" na educação dos seus filhos, se bem que só um terço lê com eles todos ou quase todos os dias, segundo o Anuário do Livro Infantil e Juvenil 2008 das Ediciones SM.
Xosé Ballesteros, director da editorial Kalandraka, aponta como uma das razões que explicam o auge da leitura entre os mais jovens, o facto de serem filhos de uma geração de pais e mães amantes de livros, com uma bagagem cultural e um poder de compra maiores. In, Lusa.
O que faltará para nos aproximarmos destas percentagens e, principalmente deste número de pais que entende a leitura como algo "imprescindível" na educação dos seus filhos?
O poder económico não justifica tudo, até porque, todos os nossos alunos têm telemóveis e, a maior parte, topo de gama.
Falta-nos uma profunda mudança de cultura e mentalidades que valorize a educação como algo "imprescindível" ao bem-estar e, aí sim, talvez os pais comecem a valorizar a leitura como "imprescindível " no processo de educação.
O que temos feito no sentido da mudança?
O que tem feito quem mais tem o poder de mudar mentalidades, formar opinião pública e moldar posturas e atitudes? Nada! Melhor, os meios de comunicação, nomeadamente as televisões, muito têm contribuído para esta cultura pobre e oca da população portuguesa, com a sua grelha de programas estéril e novelesca.
A crise do "subprime" começou em 2007, nos Estados Unidos, mas a hecatombe da economia real só se sentiu este ano, em que a expressão "a pior crise desde 1929" entrou no léxico das conversas de café.
1
O que começou como um colapso bolsista e do mercado imobiliário alastrou de forma vertiginosa. Com as bolsas internacionais a caírem como cascatas, desde o Verão do ano passado, os investidores mais dados à especulação viraram-se para o que ainda tinha potencial de valorização: as matérias-primas. Os primeiros meses de 2008 ficaram marcados por uma subida sem paralelo do preço dos cereais e do petróleo e, à medida que os combustíveis incorporaram as subidas do crude, as actividades económicas mais expostas aos aumentos foram postas em xeque.
2
Independentemente do desfecho dos casos de alegadas fraudes no BCP e no BPN, já é certo que 2008 será de má memória para a elite financeira em Portugal. As instalações prisionais da Polícia Judiciária têm, desde final de Novembro, um inquilino ilustre: José Oliveira e Costa, antigo presidente da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), detentora do BPN, está em prisão preventiva depois de ter sido constituído arguido por burla agravada, falsificação de documentos, fraude fiscal e branqueamento de capitais. (...)
3
2008 termina como 2007: num crescendo de criminalidade violenta e sem soluções eficazes à vista. Ajustes de contas entre grupos criminosos que terminam em mortes, gangues de bairro que se vingam matando e mutilando, crises domésticas que acabam com vidas, assaltantes que espalham o medo e a morte, de Sul a Norte.
4
Precipitação, pressões políticas, manipulação, subserviência a Inglaterra e excesso de mediatismo ditaram o fracasso da investigação que mais tinta fez correr. O rasto de Madeleine Beth McCann perdeu-se aos três anos no dia 3 de Maio de 2007, na praia da Luz, em Lagos.
Arquivado por falta de provas, o processo deixa marcas profundas na história da Polícia Judiciária (PJ), que se revelou frágil e permeável. Pôs a nu a falta de independência da instituição e a sua dificuldades em lidar com um ambiente adverso de que não faltam exemplos - a ausência de colaboração da polícia britânica e diligências que a PJ não concretizou por recusa do Ministério Público e do juiz de Instrução de Portimão.
Pela primeira vez, a Judiciária foi escrutinada e atacada em várias frentes, dentro e fora da instituição. Com o embaixador britânico a viajar de Lisboa para a praia de Luz, para apoiar publicamente o casal McCann, em nome do Governo do seu país, começava a desenhar-se o caminho que levou a um beco sem saída. Nos dias seguintes ao desaparecimento, a PJ viu-se obrigada a anunciar que Madeleine tinha sido raptada, que já havia um suspeito e um retrato-robot. Falso. Pouco tempo depois, a vontade da imprensa inglesa foi satisfeita, com a nomeação forçada de um porta-voz, um inspector que nada tinha a ver com o processo.
5
O ano fica de tal modo marcado pela contestação dos professores que, possivelmente, quando o XVI Governo for estudado, será um dos marcos recordados. Unida como nunca, a classe bateu recordes, em Portugal: maiores manifestações e greve. Lurdes Rodrigues mantém-se no cargo, mas o Executivo teve de afinar discurso e estratégia. O modelo de avaliação, publicado em Janeiro e que já deveria estar a ser aplicado desde o ano lectivo anterior, ainda não o foi nem será. Em Abril, ME e Plataforma Sindical aprovaram o Memorando de Entendimento - um modelo simplificado para docentes contratados e em vias de progressão. Oito meses depois da Marcha da Indignação, em Novembro, 120 mil pessoas voltam a manifestar-se em Lisboa. A primeira reacção da ministra é desvalorizar a dimensão do protesto, mas o ME inicia uma ronda de audições nunca feita: são ouvidos todos os conselhos executivos assim como o Conselho de Escolas, Conselho Nacional de Educação, Confap, sindicatos e até professores militantes socialistas. Todos os grupos parlamentares pedem a suspensão do processo, e, não fosse a falta de 30 deputados do PSD, a recomendação tinha sido aprovada.
A 20 de Novembro, é anunciada nova simplificação, mas a 3 de Dezembro os professores respondem com a maior greve de sempre: 90% para os sindicatos e 60% para a tutela. No dia seguinte, no Parlamento, a ministra admite, pela primeira vez, substituir o modelo a partir do próximo ano lectivo. Os professores à beira da reforma até 2011 são dispensados da avaliação. Para o Governo, o processo está fechado e o sector apaziguado; para os professsores, o ano começa com outra greve, a 19 de Janeiro.
7
É, talvez, a mais significativa nuvem negra no panorama político internacional: George W. Bush. Uma nuvem a apagar da memória já a partir do próximo dia 20 de Janeiro, quando Barack Obama o substituir na Casa Branca, mas que esteve presente ao longo de todo o 2008.
O recente episódio do "sapato", na última visita do presidente dos Estados Unidos da América a Bagdade, é, por isso, um paradigma de como parte muito substancial do Mundo (não exclusivamente árabe) vê a passagem de George W. Bush pela História Contemporânea.
10
Da esperança à desilusão total. A selecção nacional de futebol pode ser considerada como o fiasco de 2008, um ano péssimo da equipa de todos nós, não só porque ficou pelo caminho nos quartos de final do Europeu, como também porque, após a troca de seleccionador - Carlos Queiroz sucedeu a Luiz Felipe Scolari -, tem o apuramento para o Mundial de 2010 seriamente ameaçado.
(...) Jorge Pinto, in JN
08-Nov-2008
A manifestação foi ainda maior do que a anterior, que já tinha sido gigantesca.
A pergunta, inteiramente legítima, à luz das declarações da ministra nos telejornais, é muito simples: quantos mais terão que ser para que a senhora oiça? Ou ouça, que dos dois modos se pode dizer e escrever.
Cheguei a casa emocionado e comovido.
Aquele mar de professores está obviamente mais do que farto. Suspeito que o estão por todas as pequenas razões de um quotidiano frustrante, e que por isso se podem resumir numa curta frase: ser professor assim, não dá. Quando mais de dois terços de uma classe sai à rua, é porque, apesar do desencanto, ainda transporta dentro de si a energia da dignidade. Não é preciso ser-se professor, psicólogo ou ministro para o entender. Mas existe uma professora que é ministra e que nada entende de gente, que não percebe. Continua a não perceber.
Em casa, a comoção transformou-se em espanto quando ouvi Maria de Lurdes Rodrigues!
Consigo compreender que, intimamente, ela esteja convicta da justeza do sistema de avaliação. Consigo, porque quem lida com gente tem a obrigação de saber ouvir nas palavras do outro, o que na realidade o motiva. Mas é precisamente aí que Maria de Lurdes Rodrigues é um caso perdido. Ela tem da escola, da avaliação e do próprio conflito uma visão intrinsecamente administrativa. Todo o seu discurso é orgânico, robotizado: a avaliação começou a ser negociada no verão de 2006, foi validada por um conselho científico, se não funciona na perfeição, a responsabilidade é das escolas - "está nas suas mãos tornar as coisas mais simples" - e tem de continuar porque não há outro modelo disponível. Então está tudo bem, pergunta o jornalista. Que quase que sim e que está a ser melhorada todos os dias e que o pode continuar a ser nos próximos, desde que se concretize.
Há, nesta cultura administrativa de poder, uma cegueira que raia o autismo.
Para a ministra, todas as escolas estão a avaliar, não tem notícia de que alguma a tenha suspendido. Então e a manifestação, sempre são 120 mil, não é?, insiste o jornalista. Pois que sim que são, mas que há nela uma chantagem sobre os professores que querem fazer o seu trabalho. Ouve-se e é difícil de acreditar. Se os que estão na rua são professores, onde é que estarão os outros? "Chantagem", quando dois terços de uma classe sai à rua? Porque não faz sentido, é preciso procurá-lo.
Diz-me a experiência que posso ter a melhor ideia do mundo, mas que ela me é inútil se quem tem que a concretizar não concorda.
Com Maria de Lurdes Rodrigues é diferente. Ela tem um mundo único, exclusivo e intransmissível. Nele, o que leva os professores a saírem à rua é "o medo ante a mudança". Tenho inveja desse mundo, confesso.
No meu, que é normal e feito de pessoas comuns, o medo costuma fechar as pessoas em casa. No mundo da ministra, a manifestação foi uma cabala urdida pelos partidos da oposição. Renovo a minha inveja.
Naquele em que vivo habituei-me, pelo contrário, a uma enorme desconfiança dos movimentos genuínos face aos partidos. Sei, por experiência própria, que é preciso uma classe estar rigorosamente nos limites da exasperação, para pedir ajuda aos políticos que reconheça comprometidos com a sua luta. Pois foi isso que aconteceu desta vez.
Centenas, senão milhares de professores nos pediram - "Não nos deixem cair", "não nos abandonem", "ajudem-nos".
Não, não foram os partidos que manipularam os sentimentos dos professores; foram estes que exigiram da política o compromisso que não encontraram no seu ministério.
Estive nas duas manifestações porque politicamente estou solidário com esta luta, mas também porque sou pai de dois filhos que estudam na escola pública. Quero que eles gostem das escolas que frequentam. Quero que aprendam, que estudem e que tenham aproveitamento. Sei que têm professores melhores e piores, como estes sabem que têm alunos mais interessantes e interessados e outros nem tanto. É assim a vida, feita de encantos e desgostos. Gosto dela porque é assim, imperfeita e por isso aperfeiçoável. Do que não gosto é de uma escola que, frustrando os professores, não se pode encontrar com os alunos, que são a sua razão de ser. Uma escola de professores desesperados e angustiados é uma escola que morre dentro de muros. É por isso que a ministra até podia ter a melhor avaliação deste mundo, mas não servir. A avaliação que urge não é a dos professores, mas a de um ministério e de uma ministra que têm sido incapazes de perceber o mal que estão a fazer às próprias escolas. Não preciso de muita papelada nem de conselhos científicos para concluir que o problema mora em cima.
Miguel Portas
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